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Por que parece tão difícil acertar a medicação para asma?

14/09/2020 / por Fundação ProAr

Em entrevista, Dr. Rafael Stelmach esclarece questões históricas sobre a doença e como a informação é essencial para alcançar o tratamento correto

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    Foi só no século XX, entre os anos de 1980 e 1990, que a asma foi identificada como uma doença crônica, pois a inflamação que acontece nas vias aéreas é persistente mesmo sem o paciente apresentar sintomas. Para o Dr. Rafael Stelmach, professor doutor da divisão de Pneumologia, colaborador do HCMFUSP e presidente da Fundação ProAR, o histórico recente é apenas um dos fatores que dificultam a medicação assertiva para asma por médicos generalistas.

    Negacionismo científico e tratamentos alternativos também são barreiras que fazem com que os pacientes rejeitem seus diagnósticos, colocando suas vidas em risco, já que a asma é a quarta maior causa de internação no Brasil, cerca de 300 mil por ano, segundo o DATASUS.

    A melhor maneira de virar esse jogo? Com informação. Confira abaixo a entrevista completa com o Dr. Stelmach e não deixe de compartilhar com quem ainda precisa entender que asma não tem cura, mas tem tratamento.

    Fundação ProAR: Por que o atendimento primário, em muitos casos, não consegue chegar ao diagnóstico de asma?


    Dr. Rafael Stelmach: A definição de asma foi estabelecida por cientistas no século XVII, porém, durante muito tempo, ela ficou caracterizada como uma doença de "obstrução das vias aéreas" que vinha e voltava na forma de crises, melhorava com ou sem medicamentos e alguns pacientes tinham risco de morte por "asfixia intrínseca". Ou seja, durante muito tempo a asma foi entendida como doença aguda, podendo ser confundida com outras doenças que também causam sintomas semelhantes como, por exemplo, bronquite infecciosa por vírus ou bactérias e bronquites por tabaco e outras substâncias. O conceito de asma como doença crônica, sem cura, que causa crise é muito recente, se deu entre os anos de 1980 e 1990, e, por isso, esse mal entendido persiste até hoje. Atualmente, para um médico fazer um diagnóstico de asma é preciso observar as características do paciente e conhecer a história da medicina. Uma parcela significativa de pacientes e médicos usam o nome de bronquite para a asma, o que retarda o tratamento adequado e pode agravar o quadro.

    Fundação ProAR: Qual é o momento certo de procurar um especialista?


    Dr. Rafael Stelmach: Em teoria, somente pacientes graves, que usam grande quantidade e variedade de medicamentos, mas não apresentam uma melhora clínica, deveriam ser seguidos por especialista. Porém, muitos pacientes são encaminhados aos especialistas precocemente por não conseguirem manter sua asma controlada com médicos generalistas (clínicos gerais). A questão é que a quantidade de especialistas pneumologistas e alergistas é muito inferior aos generalistas, sem contar que eles estão estabelecidos nas grandes cidades no Sul e no Sudeste do Brasil.

    Fundação ProAR: Por que alguns pacientes acabam "recusando" o diagnóstico, ou seja, se recusam a acreditar que têm asma?


    Dr. Rafael Stelmach: Além de toda a questão histórica, ainda existe um negacionismo científico em relação a uma doença de muitas nuances como a asma, que pode ser muito leve em alguns ou muito grave em outros. Hoje sabemos que a maior parte dos pacientes precisa de uma pequena ou média quantidade de medicamento para manter sua asma controlada e sem crise, porém devem ser usados diariamente ou continuadamente. Por outro lado, sabemos que crises graves podem ocorrer em pacientes com asma leve, incluindo a possibilidade de internação na UTI e eventual risco de morte. Muitos pacientes afirmam que tem "bronquite" e não asma, já que asma não cura.

    Fundação ProAR: Por que ainda existe um preconceito contra a medicação e o tratamento da asma?


    Dr. Rafael Stelmach: Este preconceito acompanha a história da asma. Como a origem da doença ainda não é totalmente conhecida, muitos supostos medicamentos já foram utilizados com pouca eficácia, com isso, pacientes sofreram por muito tempo. Nos anos 1950, o foco do tratamento era a reversibilidade da obstrução das vias aéreas pela hiperreatividade. Assim, a partir do hormônio adrenalina, produzido nas glândulas supra renais humanas, foram elaborados os broncodilatadores. Inicialmente de uso oral e posteriormente por via inalada (conhecidos como bombinhas), os broncodilatadores agem tanto no pulmão, quanto no coração (órgãos que são interdependentes), abrindo as vias aéreas e podendo causar aumento do batimento do coração e tremores das mãos. As bombinhas passaram a ser o tratamento de alívio efetivo da asma a partir de 1970 e são usadas em larga escala ainda hoje como o medicamento que trata a asma, o que não é fato atualmente . Como a asma é uma doença inflamatória, o medicamento utilizado nos dias de hoje para controlar a inflamação é o corticoide (ou corticosteróides), também produzido nas supras renais a partir de outro hormônio humano, a cortisona. Os corticoides também são utilizados por via oral, muscular, venosa e inalada (bombinhas). O uso contínuo e em doses altas de corticóide podem provocar efeitos deletérios aos pacientes. O uso de bombinhas de corticoide ou bombinhas com broncodilatadores associados a corticoide são o tratamento de escolha da asma atualmente, assim o paciente recebe uma dose mínima, tratando o pulmão diretamente (sem passar pelo estômago ou via sangue), com grande eficácia e com poucos ou nenhum efeito colateral nas doses indicadas em estudos científicos.


    Fundação ProAR: É difícil mesmo acertar a medicação ou isso tem a ver com a relutância contra o corticóide, por exemplo?


    Dr. Rafael Stelmach: Não, se quem prescreve identifica corretamente a gravidade da asma de cada paciente, ajustando o tipo, a dose dose diária e o tempo que deve ser reavaliado. Ou seja, não existe uma dose que serve para todos, essa é outra fake news, mito ou má prática médica. De fato o paciente precisa saber que as doses podem mudar no tempo de acordo com a gravidade, com a necessidade de aumentar o tratamento nas crises, que a manutenção não é com broncodilatadores , mas com o uso de corticosteroides inalados diários ou perene em doses adequadas a gravidade. Por fim, que precisam usar as bombinhas ou similares inalados de maneira correta.

    Fundação ProAR: Qual a principal mensagem sobre medicação que um asmático tem que saber?


    Dr. Rafael Stelmach: A humanidade passou séculos ou milênios até conseguir, nos últimos 20 a 30 anos, um tratamento eficaz e protetor para a maioria dos asmáticos. A asma não tem cura, mas o tratamento medicamentoso controla a doença, evita risco de morte e ainda proporciona uma boa qualidade de vida ao paciente. Não acredite em quem prega negacionismo científico, mitos ou fake news. Procure quem possa de fato lhe tratar adequadamente e siga a Fundação ProAR.

    
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