A breve pausa nos testes da vacina contra Covid-19da Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca deixou em ebulição o debate sobre a segurança da imunização em tempos de coronavírus. Após uma semana conturbada, o estudo clínico da terceira e última fase foi retomado no último dia 14 de setembro.
No Brasil, a volta dos testes com 5 mil voluntários foi autorizada pela Anvisa, que ainda prometeu dobrar o número de pessoas submetidas aos ensaios clínicos. Os testes foram suspensos no dia 8 de setembro após a constatação de efeito adverso em um dos voluntários. "Mostra que eles estão seguindo todos os procedimentos éticos e sanitários pra que essa vacina seja segura", avalia Dra Laura de Freitas, farmacêutica-bioquímica, doutora em Biociências e Biotecnologia e pesquisadora na Universidade de São Paulo (USP).
No Brasil, Anvisa dará palavra final
A documentação exigida para aprovação de estudos relacionados à vacina consta na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 55/2010 da Anvisa. Entre outros pontos, o conjunto de normas para aprovação exige um dossiê de documentos, certificado de boas práticas de fabricação, plano de farmacovigilância e relatório sobre as matérias-primas que foram utilizadas.
The Lancet: ciência perde terreno para a desinformação
Embora o episódio da vacina inglesa tenha sido apontado como um exemplo a ser seguido, ganhou fôlego a discussão sobre os padrões de segurança envolvendo a corrida pela descoberta da primeira vacina eficaz contra o novo coronavírus.
Em um artigo publicado narevista médica The Lancet, Dr Daniel Salmon e Dr Matthew Dudley, pesquisadores do Instituto de Segurança de Vacinas do Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, criticam a morosidade da ciência em encontrar antídotos contra a desinformação: "O desenvolvimento de evidências científicas robustas leva tempo, enquanto anedota e sensacionalismo viajam rapidamente. É difícil mudar a mente das pessoas quando elas já chegaram a uma conclusão. Pesquisadores e evidências de pesquisa precisam chegar na opinião pública à medida que estão sendo formados".
Comunicação flexível é uma saída
Intitulada"É hora de levar a sério a confiança na vacina", a publicação cita como exemplo uma ampla gama de estudos que descartaram associação entre vacinas infantis e casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, 30% da população continua acreditando que vacinas infantis causam TEA. Na ótica dos autores, isso revela a falta de efetividade da ciência em afetar a opinião pública.
Salmon e Dudley cobram investimentos globais em vigilância ativa da segurança da vacina, monitoramento contínuo de percepções públicas e desenvolvimento de estratégias de comunicação flexíveis. A dupla de pesquisadores avalia que, se isso não foi feito, há o risco de vacinas contra Covid-19 "nunca atingirem seu potencial devido a uma contínua incapacidade de responder de forma rápida e eficaz às preocupações públicas de segurança da vacina, reais ou não".