Aquela falta de ar que tanto angustia as pessoas com asma, embora tenha origem nas vias respiratórias, pode ser turbinada por transtornos psiquiátricos cada vez mais comuns. Já se sabe que sintomas como depressão e ansiedade também podem agravar as crises e roubar o fôlego de pacientes.
Estudos já comprovaram a relação nociva entre a doença respiratória e os problemas psicológicos.Só ainda não está claro se a doença respiratória causa o sofrimento psiquiátrico ou se, na via contrária, é o transtorno que mina o controle da asma.
De acordo com o pneumologista e presidente da Fundação ProAR, Dr. Rafael Stelmach, os sintomas psiquiátricos não geram as crises de asma diretamente, mas podem desencadeá-las. Na prática, agravam a saúde justamente no pior momento de um paciente ofegante.
Essa associação perigosa é ainda mais delicada para os pacientes com asma grave: “Os sintomas de ansiedade estão mais presentes e contínuos, piorando o controle da asma. Já está comprovado que crises de ansiedade (como pânico) e depressão levam à piora de sintomas como falta de ar, e ao uso abusivo ou interrupção dos medicamentos de tratamento de manutenção diária”, informa Stelmach.
Tratamento para cabeça e para o corpo
Na busca pela saúde perdida, o primeiro passo é procurar um pneumologista. “O diagnóstico de presunção pode ser feito pelo próprio pneumologista. Dada a dificuldade de controle da asma, ele poderá introduzir medicamentos para tratamento destes transtornos”, explicou o presidente da Fundação. Em casos mais complicados, o especialista pode encaminhar o paciente para um tratamento multidisciplinar com um psiquiatra, um psicólogo ou mesmo com os dois profissionais.
Pesquisas atestam risco
Um estudo que analisou 78 pacientes do hospital da Universidade de São Paulo concluiu que os pacientes com asma não controlada sofriam mais de ansiedade do que aqueles com o tipo mais brando da doença respiratória. Na avaliação dos próprios entrevistados, o impacto negativo dos distúrbios de humor dificultou o controle da asma.
Outra pesquisa, desta vez realizada com 62 pacientes do interior do Rio de Janeiro, apontou para a “elevada comorbidade de transtornos de ansiedade e depressão em pacientes asmáticos, independente da gravidade da asma”. Quase metade dessas pessoas (43,5%) apresentou ao menos um diagnóstico psiquiátrico. O levantamento alertou que, apesar da fatia preocupante de depressivos e ansiosos, apenas quatro entrevistados (6,5%) estavam em tratamento psiquiátrico.