Quando o som agudo que mais se assemelha a um assobio insiste em incomodar as crianças, para muitos pais é como se um alarme soasse dentro do peito dos pequenos. A sibilância, como esse ‘chiado’ é definido pelos médicos, pode ser algo mais sério na fase adulta? Como a asma pode turbinar esse fenômeno? Os remédios são eficazes?
Para esclarecer essas dúvidas bastante recorrentes, consultamos o pneumologista Álvaro Cruz, diretor executivo da Fundação ProAR e especialista com vasta experiência no atendimento de pacientes com doenças respiratórias. Confira abaixo a entrevista completa:
Fundação ProAR: Crianças com sibilância recorrente e sem tratamento adequado podem se tornar adultos com DPOC sem nunca terem fumado?
Dr Álvaro Cruz:Há evidências de estudos de coorte de longa duração de que sim, crianças sibilantes recorrentes podem apresentar na vida adulta uma perda da função pulmonar compatível com DPOC sem nunca terem fumado. O risco deste problema é maior naquelas que têm asma grave.
Fundação ProAR: Dada a fragilidade física e emocional de pacientes dessa idade, como conduzir o tratamento da sibilância crônica sem causar grandes traumas?
Dr Álvaro Cruz:Na minha opinião de 40 anos de experiência no cuidado de crianças e adultos com asma, o que traumatiza é a sufocação recorrente e as limitações que são impostas aos pacientes. As opções de tratamento atuais são eficazes e seguras, por via inalatória ou oral. Não há motivo para traumas do tratamento.
Fundação ProAR:Como o uso de medicamentos como broncodilatadores, corticoides e antibióticos usados para controlar as exacerbações da asma podem contribuir para o tratamento?
Dr Álvaro Cruz:O objetivo do tratamento da asma é prevenir as exacerbações (ataques), mas se ocorre uma exacerbação, temos que tratar usando os medicamentos necessários para cada caso. Os broncodilatadores são indispensáveis nas crises. Na maioria das vezes é preciso também usar um corticosteróide, mas os antibióticos são dispensáveis na maioria dos casos.
Fundação ProAR: A criança com uma doença obstrutiva será, obrigatoriamente, um adulto com DPOC no futuro? Ou a doença pode se dissipar com o tempo e com tratamento adequado?
Dr Álvaro Cruz:Não, a criança com sibilância recorrente não será necessariamente um adulto com DPOC. Devemos tratar precocemente caso a caso para prevenir os ataques recorrentes na esperança de controlar a asma e suas exacerbações, além de prevenir a obstrução irreversível da via aérea.